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Mostrando postagens de março, 2021
Memórias D’Água      A televisão entrou na nossa família quando eu ainda não havia completado doze anos e, naquele tempo, ter uma TV em casa era coisa de gente rica ou, ainda, de “negra metida.”      O interessante é que o povo se recusava a completar a frase - negra metida a quê? - em um universo onde a palavra negra era totalmente subalternizada e pejorativa, quase um crime.      Negra metida a ser gente branca, a fazer coisa de gente branca, a vestir roupa que gente branca vestia, a comer a mesma comida que gente branca comia. Negra metida a ter filha cursando o ginásio, no Instituto de Educação Flores da Cunha, através de seleção e, agora, o cúmulo, negra metida a ter na casa pobre, uma TV Colorado RQ!      “Isto é muito caro”, “não vai conseguir pagar as prestações”, “o dono da loja vai tomar de volta a TV”, “que loucura”! Mas ela estava lá, a telinha em preto e branco, no lugar nobre da sala simples, sobre um balcão que o pai, lustrador de móveis, ganhou e reformou com

Vídeo com a leitura dos poemas Para todas as meninas e menina de Conceição Evaristo

  Observa-se que a pauta coletiva alcança  igualmente   para além da  individualidade   a personalidade. Somos únicas, somos marcadas por histórias únicas e ao  olhar   para o  passado , nos deparamos  simultaneamente com   o  histórico   que constrói , edifica e compreende tudo o que somos hoje. Entendemos  não   o  íntegro   e o todo,  mas como diria Lubi Prates,  “ somos filhos da África e tudo que contamos através dos nossos corpos fala sobre nós, mas no profundo da memória guarda nossos ancestrais. ”                                                                    Sara Nascente da Silva.

Relato de Experiência

  Os passos de MARIA, furando a barreira do Sistema. Compartilharei um pouco da minha história de vida, na esperança de que minhas vivências possam servir de referência para outras pretas que estão aí nessa caminhada chamada vida. Sou Mulher, Negra, Quilombola, nascida no interior do município de São Lourenço do Sul - RS. Venho de uma família numerosa, composta por dez irmãos, contando comigo. Minha vida não foi um mar de rosas, mas erámos felizes diante do pouco que tínhamos. Conforme o tempo foi passando e eu tive que sair do seio familiar para frequentar a escola, foi então que começou o meu tormento, aos 6 anos de idade, sendo a única criança negra da escola. Na época as classes escolares eram aquelas conjugadas de madeira. Lembro-me como se fosse hoje que no meu primeiro dia de aula ninguém quis se sentar ao meu lado. Fiquei muito triste, sem entender por que era preterida por toda(o)s. Mas tudo bem! Hoje percebo que não tinha como uma criança de 6 anos ter a percepção do raci
A palavra que mais define os últimos dias é confusão  Já não me sinto nem me encontro Perdida em meio a uma bagunça  Uma grande bagunça, o caos interior Tá difícil de verbalizar tudo isso Talvez não seja necessário Meu desejo é que se vá, me deixe  Ou melhor que eu retorne  Talvez eu nunca tenha sido algo Mas uma folha vazia vale mais que rabiscos O que me deixa aflita nesse completo descontrole? Não ter o controle ou saber que nunca tive?  Me afogando cada vez mais dentro de mim Tendo uma descarga elétrica, um curto-circuito, uma explosão na cabeça  O coração acelerado, descompassado, tão apertado que chega a doer E a pior de todas essas sensações é a de proximidade com a morte ou falta de vida Sufocamento, afogamento ou o tal do enlouquecimento  É sim como morrer, de diferentes modos e em diferentes lugares sem ter como parar O mais complexo nisso é a incomplexão  Meus sentimentos estão em colapso Minha energia sugada e meu humor oscila constantemente  Rezo pelo equilíbrio que se que
  OCA Bater à porta. Ouvir ecoar o vazio de lá Medo. Bater à porta.  Ouvir ecoar o medo daqui Silêncio. Abrir a porta?  O silêncio grita o nada OCA. J.S