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Ergue a voz, Preta!


Meu corpo feminino, negro político

É uma tese de força, sem entrelinhas.

Sem escolhas

não posso me calar para a ação.

Não carrego amarras, dor ou lamentação.

Apenas um corpo feminino negro

nas águas de um oceano, tentando viver.

Não exijo atenção, espelhos ou aplausos.

Não quero silêncio.

Porque a palavra que ergo sempre gritará.

A minha palavra comunica, e ainda denuncia

uma memória branca e colonial.

A minha palavra me ergue, politiza e alivia as tragédias

De uma experiência de domínio, negação e de ser.

O meu corpo feminino negro, diariamente, sangra.

Para alguns um corpo inerte, sem vida e pronto para morrer.

Para outros um corpo aprisionado, sem direitos, sem liberdade e sem chances de dizer.

Para corpos negros a oralidade nos disse e muito ensinou.

Com palavras eu apenas

Reafirmo, o poder da minha ancestralidade.

Reafirmo, o poder de minha crítica que movimenta a vida.

Eu falo do axé que afronta os temidos

Do meu corpo feminino, negro político

pulsante e aguerrido

que torna o descarte em arte.

Porque a minha palavra deseja ser como os sons dos atabaques

a produzir dança e vida

nos territórios que não nos deixam viver.

             
                                                                           Hélen Rejane Silva Maciel Diogo

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12 de Junho

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