Meu corpo feminino, negro político
É uma tese de força, sem entrelinhas.
Sem escolhas
não posso me calar para a ação.
Não carrego amarras, dor ou lamentação.
Apenas um corpo feminino negro
nas águas de um oceano, tentando viver.
Não exijo atenção, espelhos ou aplausos.
Não quero silêncio.
Porque a palavra que ergo sempre gritará.
A minha palavra comunica, e ainda denuncia
uma memória branca e colonial.
A minha palavra me ergue, politiza e alivia as tragédias
De uma experiência de domínio, negação e de ser.
O meu corpo feminino negro, diariamente, sangra.
Para alguns um corpo inerte, sem vida e pronto para morrer.
Para outros um corpo aprisionado, sem direitos, sem liberdade e sem chances de dizer.
Para corpos negros a oralidade nos disse e muito ensinou.
Com palavras eu apenas
Reafirmo, o poder da minha ancestralidade.
Reafirmo, o poder de minha crítica que movimenta a vida.
Eu falo do axé que afronta os temidos
Do meu corpo feminino, negro político
pulsante e aguerrido
que torna o descarte em arte.
Porque a minha palavra deseja ser como os sons dos atabaques
a produzir dança e vida
nos
territórios que não nos deixam viver.
Hélen Rejane Silva Maciel Diogo